sábado, 24 de julho de 2010

 A Lucidez Perigosa - Clarice Lispector


 Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
- essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Estou tentando me achar, tentando saber quem eu sou, mas esta cada dia mais difícil. Estou tentando de tudo, tudo mesmo. Eu não sei quem eu sou, não sei do que gosto, não sei o que quero. Esta na hora de mudar isso. Eu preciso urgentemente me descobrir. Parece tão fácil para as pessoas saberem quem são e viverem felizes com isso, mas pra mim nunca foi assim. Pelo menos eu descobri que escrevendo eu me sinto melhor, quando eu escrevo me sinto mais leve, mais viva.

quarta-feira, 21 de julho de 2010


Estou pensando no que fazer da vida, se é que posso chamar assim esse espaço de tempo que corre entre o meu nascimento e a minha morte, acho que ate agora eu nunca vivi de verdade, eu só existi, como qualquer objeto inanimado que não tem vontade própria, sem sonhos e sem desejos. É assim todo dia, eu acordo pensando, durmo pensando e não chego a nenhum lugar. Acho que é porque no fim das contas pensar não ajuda em nada. Eu deveria fazer alguma coisa, mas eu sinceramente não sei o que fazer.

Eu já perdi a data e não olho mais no relógio, estou aqui nesse quarto a tantos dias que nem me lembro se já faz uma semana ou um mês. Simplesmente não consigo me mexer. Não saio do lugar. Aqui dentro eu estou mais confortável, lá fora eu me sinto deslocada, me sinto diferente. Aqui dentro posso ser eu mesma sem ter que ouvir os comentários sobre a minha tristeza e minha falta de animo.
Estou me perguntando dia após dia se eu sou a única. Eu ainda não perdi a a minha fé completamente. Eu espero encontrar alguma coisa. Alguma coisa que eu não sei o que é, alguma coisa que vai me fazer melhor, melhor do que eu nunca fui.

quarta-feira, 14 de julho de 2010


Preciso escrever pra saber a verdade. Preciso sentir. Estou perdida, sozinha, sem saída.
Onde eu posso achar alguém que tenha um minuto? Onde posso achar alguém pra conversar?
Alguém pra chorar, pra rir, pra sentir.
E como se o mundo fosse do tamanho de uma cabeça de agulha
E nos estamos todos aqui. Milhares de pessoas. Mesmo assim a maioria esta sozinha, sem ter ninguém com quem contar. Sem ter ninguém pra falar, nem nada que faça valer a pena.
Eu tento todos os dias lutar contra isso, contra essa dor que me vem, essa sensação de solidão, essa falta de tudo. Parece que nunca acaba. Dia após dia você acorda e ela esta lá. A mesma dor e solidão. E você não pode fazer nada, a não ser esperar que ela vá embora e tentar aguentar firme.
E o dia passa, e depois a semana, o mês, o ano. E lá se foi a sua vida.
É tudo tão curto e tão inseguro. Você nunca sabe quando vai acabar. Nunca sabe quanto tempo você ainda tem pra tentar concertar tudo.
Às vezes eu me pergunto se eu sou a única pessoa a sentir isso. Se existe alguém lá fora além da minha janela que intenderia o que eu sinto. Eu tento me contentar com essa ideia de não ser a única a ter que lutar contra essas sensações todos os dias.
Mas ai a noite cai, e o sono não vem. E você torce pra ter alguma coisa na tv que te distraia, alguma coisa pra afastar os pensamentos da sua cabeça, alguma coisa que faça o sono vir.
Mas não vem, nunca vem.
Nada disso deveria ser assim.